Estávamos no ano de 2018, no Brasil. Numa estrada do estado de Minas Gerais, uma mulher com uma criança de dois anos em um carrinho de bebê, levando duas mochilas, seguia no alvorecer, com passos tão apressados quanto possível. A paisagem era agreste: umas poucas árvores, sem habitações até onde a vista alcançava. O solo meio barrento da chuva da noite anterior dificultava a caminhada. Eram mais ou menos cinco horas da manhã. Essa estradinha ficava no sentido contrário da rodovia principal que daria acesso à rodoviária e a outras cidades, inclusive a São Paulo. Ia agasalhada com casaco e lenço na cabeça, pois estava frio, mas sentia calor devido à caminhada, ao peso das mochilas e à força que fazia para empurrar o carrinho em subidas. Ela não sabia para onde ir, havia feito aquela escolha desesperada por questão de sobrevivência sua e da filha. A intuição lhe dizia que era melhor afundar-se no sertão de Minas ao invés de rumar à região urbana. Por vezes, chorava… quando o coração apertava muito. Alguém havia dito que as lágrimas são tristezas líquidas, desfazendo-se. Acalmava-se, olhava para a linda filha no carrinho e tirava forças dali. Tinha de seguir em frente. Família e ocupação ficavam para trás. Não houvera tempo para dizer adeus aos seus queridos. Sua vida estava em jogo, e todos os outros interesses deveriam ser submetidos a um único propósito: chegar a um lugar de segurança. O cansaço era esquecido e as dificuldades desprezadas.